sábado, 9 de julho de 2011

Análise de 'Happiness', do Goldfrapp

São 5:45 da manhã, aquela vibe bem matinal que todos nós conhecemos. Ouvindo uma trilha sonora bem no estilo da aurora, me deparei com Goldfrapp, o que me deu, sem dúvida, uma nostalgia, pois ouvia essa música quando ainda estava no Ensino Médio.

E pra começar, vamos dar uma checada na música e no clipe, pois este é essencial.



O que, a princípio, parece uma música somente matinal, revela-se uma grande crítica à sociedade capitalista, e, muito mais, à alienação dessa sociedade. A princípio, vejamos alguns trechos dignos de nota: "Junte-se ao nosso grupo e você encontrará harmonia e paz de espírito". Como pode-se perceber, é uma música irônica, pois é, por si só, um agente da alienação, mas a satiriza nas entrelinhas, o que se prova por meio de diversos fatores, os quais faço questão de citar.

"Estamos aqui pra te saudar!". Não parece uma propaganda? Propaganda de um lugar exótico e cheio de felicidades. A única frase que mostra, meio que descaradamente, o objetivo desse "narrador" é "Doe todo o seu dinheiro", e musicalmente, essa frase é encurtada (ouça! está por volta de 1'37'').

O bridge da música é marcado, no videoclipe, por um espelho que solta luzes sutis, quase que hipnotizadoras, enquanto se canta "Nadaremos no mar da sabedoria e da serenidade". O personagem principal do vídeo, releitura de Small Town Girl, filme de 1953, é mentor desse ocultamento da alienação, pois o que sua figura representa é somente uma máscara para convencer os outros a fazer parte disso. Esses dois artefatos demonstram a propaganda.

Além disso, uma sociedade londrina perfeita é retratada no vídeo. Sem figuras que representem o mal, uma cidade sem nenhum tipo de problemas aparentes, vizinhos cuidando do jardim, crianças brincando na rua, aquele esquema de jargão que foi muito bem utilizado em Happiness.

Se para alguém não ficou clara a sátira à alienação, a última cena do clipe prova tudo. A cidade inteira feliz, cantando e pulando, e dois velhinhos mal conseguem se locomover nessa cidade, marginalizados pela hipocrisia social oriunda dessa vontade de autobenefício.

Mistura de ritmo suave e convidativo, letra pacífica, vozes tendendo à agudez e à serenidade, um clipe fofinho: substrato ideal para se esconder o cinismo.

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